Uma reconversão inesperada
Geralmente, há um espaço da casa no qual nos sentimos mais tranquilos, e para onde nos dirigimos, quase inconscientemente sempre que necessitamos de um pouco de paz e recolhimento. Se para uns é a casa de banho (ouvi alguém dizer isso recentemente numa conferência), para outros pode ser o quarto - que é o meu caso - e outros ainda podem ter um espaço destinado, exclusivamente, a esses momentos. Há pessoas que rezam, que meditam, ou que simplesmente se dediquem a uma atividade de diálogo consigo próprio, como por exemplo, ler. Esses espaços são naturais dentro da própria área habitacional. Assiste-se a uma reutilização do espaço, ainda que seja temporário, do mundano para o espiritual.
Menos comum é, no entanto, a alteração no sentido oposto. E foi precisamente essa descontextualização que me chamou a atenção neste projeto. Aqui, a reconversão deu-se no sentido contrário: do espiritual para o mundano. É que este espaço interior, que agora é uma casa para uma família, foi outrora um espaço de oração. Este edifício era uma igreja!
Situa-se em Chicago, e a sua reconversão esteve a cargo de Linc Thelen Design e de Scrafano Architects.
A volumetria do edifício original permitiu a criação de uma casa com sete quartos, que alberga uma família composta por um casal e três filhos.
O aproveitamento da totalidade de altura de pé-direito em áreas comuns, a cor clara dos materiais, o branco predominante e os grandes vitrais pré-existentes conferem a estes espaços uma sensação de frescura e amplitude.
As divisões envidraçadas, com caixilharia de ferro preto e a lareira, também em preto, que acompanha toda a altura da sala evidencia isso mesmo: a amplitude dos espaços. O desenho do mobiliário e a escolha das luminárias fecham um conjunto que se lê como eclético e moderno.
Sem dúvida que, neste conjunto, são os vitrais que atribuem o carisma a este espaço, diferenciando-o e, em simultâneo, relembrando o seu passado. Não teria sentido de outra forma, é verdade. Renegar, tentar esconder ou dissimular, em vez de aceitar a valorizar a natureza dos edifícios nunca leva a bom porto. E este projeto chegou, na minha opinião, a um muito bom porto!